O “Poder” do Homem Invisível de Wells
- Projeto Óptica UFPB
- há 4 dias
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Na clássica novela O Homem Invisível, escrita por H.G. Wells em 1897, acompanhamos a história de Griffin, um cientista brilhante que descobre como tornar-se invisível ao transformar todas as partes do seu corpo – inclusive os olhos – em substâncias transparentes, com índice de refração igual ao do ar. A narrativa explora as consequências dessa transformação, com Griffin usando sua invisibilidade tanto para escapar das autoridades quanto para dominar as pessoas ao seu redor.
Mas, se Wells tivesse feito uma simples pergunta antes de começar sua obra, talvez essa história nunca tivesse sido escrita:
"Um homem invisível pode enxergar?"
A Falácia Científica da Invisibilidade Total
O suposto poder da invisibilidade entra em colapso ao se considerar uma verdade física básica:
Se os olhos de alguém forem invisíveis – ou seja, completamente transparentes –, essa pessoa não pode ver.
Vamos entender por quê.
Os olhos humanos funcionam com base na refração da luz: o cristalino, o humor aquoso e outras estruturas transparentes refratam os raios luminosos, concentrando-os na retina, onde a imagem dos objetos externos é formada.
Se essas partes do olho tiverem o mesmo índice de refração do ar, não haverá refração alguma. A luz passaria diretamente pelos olhos, sem ser desviada, sem formar imagem alguma. Além disso, na ausência de pigmentos ou qualquer opacidade interna, nenhuma luz seria absorvida ou processada. Resultado: o homem invisível seria cego.
Os raios de luz atravessariam seus olhos como se nada houvesse ali. Ele não veria absolutamente nada, pois a formação da visão exige exatamente o que sua invisibilidade elimina: a capacidade de refratar e absorver a luz.
O Destino do Invisível: De Poderoso a um Inválido Infeliz
Em vez de um ser supremo e indetectável, teríamos alguém tateando no escuro, pedindo ajuda a pessoas que não poderiam vê-lo. Um indivíduo invisível, mas também incapaz de enxergar, interagir ou sobreviver sem auxílio, condenado a uma existência miserável e solitária.
Ou seja, a busca pela invisibilidade, pelo caminho proposto por Wells, não leva ao poder, mas à invalidez. Mesmo o sucesso completo da ciência em tornar um corpo totalmente transparente não permitiria manter a função essencial dos olhos.
Hoje, discutem-se tecnologias como metamateriais, camuflagem ativa e dispositivos que manipulam a luz para ocultar objetos, mas isso está longe de tornar um corpo humano invisível no sentido literal. A ciência moderna confirma o dilema: a invisibilidade total compromete a visão, e o “poder” do homem invisível não seria mais do que sua maior desgraça.
Moral da história: ser invisível aos outros exige também tornar-se invisível para si mesmo.
Versão adaptada do relato de Yakov Perelman.
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