Nos dias de hoje, tem se tornado quase uma obsessão ter fotos cada vez melhores. Para isto as empresas gastam milhões na produção de celulares com tecnologias que permitam dotá-los das câmeras melhores do que as concorrência. Assim nossos “stories” do Instagram, Facebook e até o Tik Tok se veem beneficiados por esta “corrida pelas melhores câmeras”. Mas, façamo-nos uma pergunta: será que a maneira que apreciamos todo este conteúdo que consome tanto do nosso tempo é a correta? Será que a nossa amiga, a Física, pode (mais uma vez) nos convencer de que estamos errando na forma de fazer algo tão do dia a dia como é olhar uma foto? Vejamos, querido leitor. Devido à sua estrutura, a câmera se assemelha a um grande olho. O que é projetado no vidro da lente depende da distância entre a lente e os objetos que estão sendo fotografados. O aparato fotográfico fixa no sensor (antigamente a placa fotográfica, que era vendida em rolos) a perspectiva que um dos nossos olhos (somente um!) veria se a colocássemos no lugar da lente. Daqui se deduz que se quisermos receber da fotografia a mesma impressão óptica que a natureza produz sobre o sensor, teremos que:
olhar as fotos com um olho;
colocar as referidas fotos a uma certa distância do olho.
O ponto 2, será discutido em outro relato, foquemos então no argumento 1. Não é difícil entender que, se olharmos as fotos com os dois olhos, inevitavelmente veremos uma imagem plana e não uma imagem profunda. Isso nada mais é do que uma consequência das peculiaridades de nossa visão. Quando olhamos para um corpo, as retinas dos nossos olhos não formam duas imagens idênticas, mas entre o que o olho direito vê e o que o esquerdo vê há uma certa diferença (fig.1, o encorajamos a que faça o teste você mesmo). Essa diferença entre as imagens é, em essência, a principal razão pela qual percebemos o volume dos corpos, porque o nosso cérebro funde essas duas impressões diferentes em uma única imagem em relevo (é nisso que se baseia o estereoscópio, o precursor da tecnologia do cinema 3D).
Figura 1. Um dedo visto desde a perspectiva do olho esquerdo e do olho direito respectivamente.
Outra coisa é o que acontece quando o objeto à nossa frente é plano, como a superfície de uma parede, por exemplo. Nesse caso, os dois olhos recebem uma impressão idêntica e essa identidade é percebida pelo nosso cérebro como uma indicação de que o objeto é totalmente plano. Agora, é claro o erro que cometemos ao olhar uma fotografia com os dois olhos. Porque, ao fazê-lo, influenciamos nossa consciência, convencendo-a de que o que está à sua frente é uma imagem plana. Quando fixamos os dois olhos numa fotografia, apropriada para um só, nós mesmos impedimos que essa fotografia nos transmita o que ela deveria nos transmitir, ou seja, com o nosso erro anulamos a ilusão que a câmera cria de maneira tão perfeita. Não pretendemos com isto, que você, meu caro leitor, comece a assistir todos os programas na TV ou a tela do seu celular apenas com um só olho, pois isto terminaria cansando em extremo sua visão. Mas queremos que tenha consciência da forma correta de olhar uma fotografia se realmente, para fins artísticos ou outros, você deseja ter a mesma impressão que o fotógrafo quis transmitir com aquela imagem.
Relato tomado e adaptado do Livro Física Recreativa de Jakov Perelman
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