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Viagem no tempo: É possível viajar para o futuro?

Nossa visão do tempo mudou radicalmente com Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915. Einstein mostrou que o tempo não é um rio universal que corre igual para todos. Na verdade, ele está profundamente ligado ao espaço, formando um tecido único de quatro dimensões chamado espaço-tempo. O mais fascinante é que o próprio ritmo do tempo depende de quem o mede: ele muda conforme a velocidade da pessoa e a força da gravidade ao seu redor. Esses efeitos, chamados dilatação temporal, são reais e mensuráveis. Um astronauta na Estação Espacial envelhece um pouquinho menos do que quem fica na Terra. E se pudéssemos viajar perto da velocidade da luz, esse efeito seria enorme!


A gravidade, por sua vez, deixou de ser uma "força invisível". Einstein nos ensinou que ela é, na verdade, a curvatura do espaço-tempo causada por objetos com massa ou energia. Estrelas e, principalmente, buracos negros, deformam profundamente esse tecido cósmico ao seu redor.


E é essa capacidade de deformação que abre uma brecha teórica para a viagem no tempo: os buracos de minhoca. Imaginem túneis cósmicos ligando não só lugares distantes, mas também épocas diferentes. As equações da Relatividade Geral até permitem essa possibilidade no papel. Imagine uma das "bocas" desse túnel sendo colocada perto de um buraco negro ou acelerada a velocidades absurdas. Por causa da dilatação temporal, o tempo passaria muito mais devagar nessa boca do que na outra, que ficaria em condições normais. Assim, alguém entrando pela boca "rápida" e saindo pela boca "lenta" poderia emergir antes de ter entrado – efetivamente viajando para o passado em relação ao seu ponto de partida.


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Figura 1: imagem ilustrativa de um buraco de minhoca. Fonte: Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS - Porto Alegre/RS


Mas transformar essa matemática elegante em realidade esbarra em obstáculos gigantescos. O primeiro – e talvez maior deles – é a necessidade de matéria exótica. Para manter um buraco de minhoca aberto e estável, permitindo que algo (ou alguém) o atravesse, precisaríamos de um tipo de matéria com propriedades bizarramente anormais: energia ou pressão negativas. Sabemos que flutuações quânticas minúsculas podem criar algo parecido em escala subatômica (como no Efeito Casimir), mas produzir, controlar e manter quantidades enormes e estáveis dessa matéria exótica está completamente fora do nosso alcance tecnológico – e muitos físicos duvidam que seja sequer possível dentro das leis da natureza que conhecemos.


Além disso, mesmo que conseguíssemos criar um, teorias sugerem que o buraco de minhoca seria incrivelmente instável. A simples tentativa de atravessá-lo poderia disparar uma reação catastrófica de radiação, destruindo o túnel no exato momento da passagem.


Os problemas da viagem ao passado vão muito além da engenharia, mergulhando em quebra-cabeças lógicos e filosóficos – os famosos paradoxos temporais. O clássico é o Paradoxo do Avô: se você voltar no tempo e impedir o encontro dos seus avós, como você poderia existir para fazer a viagem? Outra ideia, a das "Histórias Autoconsistentes", sugere que qualquer tentativa de mudar o passado estaria fadada ao fracasso, ou que suas ações no passado já faziam parte da história que você conhece – você sempre esteve lá. Uma solução radical vem da Interpretação dos Muitos Mundos, da Física Quântica. Ela propõe que, ao viajar para o passado, você não altera sua própria linha do tempo original. Em vez disso, criaria instantaneamente um novo ramo da realidade, onde os eventos se desenrolariam de forma diferente, evitando o paradoxo no seu universo de origem.


Enquanto viajar ao passado permanece no reino da pura especulação e enfrenta barreiras teóricas enormes, a viagem para o futuro é uma realidade física comprovada. A dilatação temporal de Einstein é real e medida com precisão. Como mencionado, astronautas na Estação Espacial Internacional voltam ligeiramente mais "jovens" que quem ficou na Terra. Teoricamente, uma nave viajando a uma fração significativa da velocidade da luz permitiria que, após alguns anos para o tripulante, ele retornasse a uma Terra que avançou centenas ou milhares de anos. Esse "salto" unidirecional para o futuro é a única forma de viagem no tempo que sabemos ser possível e consistente com as leis da física – e já acontece, em escala pequena, bem diante de nossos olhos.


Referências:


[1] THORNE, K. S. Black holes and time warps: Einstein’s outrageous legacy. WW Norton & Company, 1994.

[2] CARROLL, S. Spacetime and geometry: An introduction to general relativity. Cambridge University Press, 2019.

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